Planejamento Estratégico

O planejamento estratégico é uma técnica que visa à definição de objetivos e a escolha de ações para alcançá-los, em um contexto de incertezas. Atualmente é um paradigma da gestão, uma vez que com o cenário de globalização cada vez mais dinâmica, toda organização precisa estabelecer um planejamento estratégico para sobreviver. Dessa forma, o presente artigo tem como objetivo apresentar noções básicas de planejamento estratégico, bem como das etapas essenciais para sua implementação.

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Para compreender o planejamento estratégico, é importante considerar a noção de níveis organizacionais, segundo a qual toda organização pode ser visualizada em três níveis hierárquicos: estratégico, responsável pelas decisões mais importantes e de longo prazo; tático, responsável pela gerência e decisões de médio prazo; e operacional, responsável pelas tarefas rotineiras de curto prazo.

Alguns autores consideram que o termo “administração estratégica” é mais amplo, uma vez que inclui a participação efetiva de todos os níveis organizacionais (estratégico, tático e operacional), ao passo que o “planejamento estratégico” inclui somente o nível estratégico (BATEMAN; SNELL, 2009). Predomina nos textos acadêmicos, no entanto, o uso dos termos como sinônimos.

Outra noção importante é a de existência de, no mínimo, três ambientes organizacionais: I) o ambiente interno, composto pelos elementos passíveis de controle da organização, tais como processos produtivos e colaboradores; II) o ambiente relacional, composto por elementos não controlados pela organização, mas que se relacionam diretamente como ela, como clientes, fornecedores e concorrentes; III) e o ambiente externo, composto por elementos não controlados pela organização e que a influenciam indiretamente, como macroeconomia e política.

O planejamento estratégico surge então a partir do aprimoramento do planejamento tradicional, o qual voltado para aplicação da Administração Científica, visando o aumento da eficiência produtiva no ambiente interno, em um cenário externo relativamente previsível. Com a evolução do pensamento administrativo, avanço da globalização e da tecnologia, os ambientes relacional e externo ganharam relevância, sendo cada vez mais necessário incluir variáveis como comportamento dos clientes, fornecedores, macroeconomia e política, entre outras ao planejamento organizacional. 

Embora a estratégia, de origem epistemológica na Grécia antiga, seja usada desde os primórdios, a exemplo da obra “A arte da guerra” de Sun Tzu, sua aplicação científica ao planejamento difundiu-se na década de 1960, sobre influência da Administração Neoclássica, bem como das teorias Sistêmica e Contingencial (CHIAVENATO, 2020). Nesse sentido se alinha a Chamada Teoria do Jogos, que considera que toda organização possui um conjunto de alternativas, cuja mais viável dependerá da atuação de elementos dos ambientes relacional e externo (concorrentes, parceiros, governo, etc.). A estratégia, no entanto, pode ser visualizada e aplicada de diferentes formas, dando origem às chamadas escolas da estratégia (MITZIMBERG, 2009).

Dessa forma, o processo de planejamento estratégico envolve um conjunto de etapas cujas sequências não são consensuais na literatura (CHIAVENATO, 2020; OLIVEIRA, 2018), porém é possível considerar algumas que quase sempre estão presentes: I) Definição das orientações estratégicas; II) análise do ambiente relacional e externo; III) análise do ambiente interno; IV) definição de estratégias.

A definição das orientações estratégicas inclui a missão, a visão, as diretrizes e os objetivos estratégicos. A missão é a razão de ser da organização, enquanto a visão é a sua perspectiva de futuro. Ambas são declarações oficiais que norteiam a organização. As diretrizes são premissas que desencadeiam os objetivos estratégicos, definidos pela alta administração e essenciais para o sucesso dela ao longo prazo. Conforme Falconi (2013), diretrizes e objetivos estratégicos podem ser decompostos em objetivos táticos e operacionais, e esses, por sua vez, se decompõem em metas, consideradas como etapas para alcance dos objetivos. Numa partida de futebol, por exemplo, pode-se definir como objetivo ganhar o jogo, ao passo que a meta é fazer gol. Nesse exemplo, percebe-se duas premissas: 1. É possível cumprir a meta (fazer gol) e não o objetivo (perder por 2x1); 2. Não é possível alcançar o objetivo sem cumprir a meta (o máximo que se chega é ao 0x0).

A análise do ambiente relacional tem como elemento central o mercado de atuação da empresa, sobretudo no que tange a análise dos seus segmentos e tendências. O relatório gerencial de 2019 empresa Cogna, por exemplo, considera, para o mercado educacional, os seguintes seguimentos: educação básica, educação superior presencial e educação superior à Distância (EaD). As tendências de longo prazo (mais de 10 anos) mostram: redução do total de matrículas na educação básica, mas com crescimento nas redes privadas; aumento do número de matrículas no ensino superior, tanto na rede pública como privada; aumento vertiginoso de matrículas no ensino superior Ead, principalmente na rede privada (COGNA, 2019). Essa última tendência foi potencializa com a pandemia. Em todos os segmentos as tendências são positivas, o que se traduz em um cenário positivo à empresa.

Nem sempre o ambiente relacional positivo indica que a empresa terá bons resultados: nos últimos cinco anos as ações da COGNA na bolsa de valores tiveram queda vertiginosa. Ao passo é que possível empresas se readaptarem em ambiente externo desfavorável, a exemplo do Circo do Soleil que reinventou o conceito de circo na década de 1980 (BATEMAN, SNEL, 2009). Uma técnica importante para análise das ameaças do ambiente relacional são as Forças de Porter, que incluem: novos entrantes, concorrentes, substitutos, barganha dos fornecedores e barganha dos compradores (OLIVEIRA, 2018).

O mercado é bastante influenciado pelo ambiente externo, incluindo aspectos socioculturais, econômicos e políticos. No caso da Cogna, pode-se exemplificar: atualmente o brasileiro médio tem menos filhos do que há 30 anos, contribuindo para redução das matrículas totais na educação básica, embora o percentual de pessoas que matriculem seus filhos na rede privada venha aumentando;  a crise econômica recente, em virtude da pandemia, fez com que reduzisse o número de matrículas e consequentemente a receita das empresas; os gastos governamentais em políticas públicas que foram favoráveis a empresa no passado, como o FIES, reduziram nos últimos anos (DANTAS et al., 2023).

A análise do ambiente interno é composta por elementos como governança corporativa, gestão de pessoas, estrutura organizacional e finanças. A governança corporativa corresponde a gestão dos conflitos entre as partes envolvidas (stakeholders) de uma organização. A gestão de pessoas é implementada a partir de 6 processos: agregar, aplicar, recompensar, desenvolver, manter e monitorar. A estrutura organizacional consiste na organização da empresa, podendo ser de diversos tipos como funcional, linha e/ou liha-staff (CHIAVENATO, 2020). As finanças da organização são essenciais para uma boa análise, devendo-se pautar tanto em dados históricos e atuais disponíveis em relatório que seguem o regime de competência (Balanço Patrimonial e Demonstrações do Resultado do Exercício) e de caixa (Fluxo de Caixa FC). Esses dados darão embasamento para a estimativa das gerações de caixa futuras das empresas, importantes para definição de estratégias, análise de viabilidade de projetos e atração de investidores (GITMAN, 2009).

Uma excelente ferramenta de sintetização das análises do ambiente interno e externo é a Matriz SWOT, que considera quatro variáveis: 1. Strenght – Forças do ambiente interno; 2. Weakness – fraquezas do ambiente interno; 3. Oportunities – oportunidades do ambiente externo; 4. Threats – ameaças do ambiente externo. Com base nesse diagnóstico organizacional, parte-se para etapa seguinte é que a definição de estratégias. No setor privado, por exemplo, existem as estratégias empresariais (verticalização, concentração, diversificação concêntrica e diversificação por conglomerados) e estratégias de negócios (baixo custo e qualidade). Cabe a alta administração definir, primeiramente, qual a mais adequada e depois documentar no plano estratégico de ação da organização. Por fim, vale destacar que nada adianta realizar o planejamento estratégico se não o colocar em prática. Nesse sentido, o plano estratégico é um instrumento de gestão aprimorado constantemente à medida em que a organização de desenvolve. Quando todos os níveis organizacionais participam do processo de elaboração do plano estratégico, sua execução tende a ser melhor (BATEMAN; SNELL, 2009).

Dessa forma, conclui-se que, no atual contexto de incertezas do mundo globalizado, o planejamento estratégico é essencial para o sucesso das organizações. Através dele, a organização pode identificar seus pontos fortes e fracos, bem como definir seus objetivos e as estratégias para alcançá-los. É importante ressaltar que o processo de planejamento estratégico não deve ser visto como algo estático, mas sim como um processo contínuo de análise e ajuste das estratégias, de forma a garantir a adaptação da organização às mudanças do ambiente externo e interno.

 

Referências

ALMEIDA, M. Manual de planejamento estratégico: desenvolvimento de um plano estratégico com a utilização de planilhas Excel. São Paulo: Atlas, 2001.

BATEMAN, T. S.; SNELL, S. A. Administração: novo cenário competitivo. Tradução Bazán Tecnologia e Linguística Ltda. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

OLIVEIRA, D. Estratégia empresarial e vantagem competitiva: como estabelecer, implementar e avaliar. 3ed. São Paulo: Atlas, 2001.

FALCONI, V. Gerenciamento pelas diretrizes. 5 ed. São Paulo: Falconi, 2013.

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