Gestão em Logística

 A gestão em logística é responsável por planejar, implementar e controlar o fluxo de bens e serviços ao longo da cadeia de suprimentos, ou seja, desde o ponto de origem até o ponto de consumo final, no intuito de atender às demandas dos clientes de forma eficiente e eficaz. O presente texto tem como objetivo analisar a importância da gestão logística, a partir dos seus dilemas e tendências de integração e sustentabilidade atuais.



A gestão logística trata do gerenciamento integrado da Cadeia de Suprimentos, que consiste no conjunto das partes envolvidas, direta ou indiretamente, na realização de um pedido por um cliente. Trata do fluxo de recursos e informações entre o fornecedor primário e o consumidor final. Nem sempre ela é formada por organizações diferentes, podendo seus elos envolver diferentes departamentos de uma mesma organização, a exemplo de empresas verticalizadas, como a Petrobrás (GOULART, 2021).

O sucesso da logística é medido pelos resultados da cadeia de suprimentos como um todo e não pelo desempenho de cada elo. O objetivo é maximizar o valor geral produto, através do crescimento do chamado “Excedente da cadeia”, ou seja, a diferença entre o Valor para Cliente e o Custo da Cadeia. Tal perspectiva é importante mesmo em mercados de commodities. A título de exemplo, a soja brasileira em média tem um custo de produção menor do que a americana, porém, por conta da estrutura de transporte nos EUA ser ferroviária (mais eficiente para grande escoamento do que a malha rodoviária brasileira), a soja americana, em muitas situações, é mais competitiva (SOUZA, 2020).

Dessa forma, as organizações estão cada vez mais adotando estratégias de logística que visam sincronizar os processos ao longo da cadeia de suprimentos, garantir a qualidade dos produtos, reduzir custos e otimizar o tempo de entrega. Uma das principais estratégias é a adoção de tecnologias de informação, como sistemas de gestão de estoque, rastreamento de cargas e análise de dados, que permitem uma visão mais ampla e integrada dos processos logísticos. A gestão logística frequentemente enfrenta, no entanto, dilemas (tradeoffs), os quais não há uma resposta absoluta para toda situação (GOULART, 2021). Alguns dos mais importantes são:

1.      Nível de Estoque adequado: empresas que mantêm muito estoque possuem o benefício de ter uma alta disponibilidade de produtos ao cliente, além de maior segurança, uma vez que o cliente pode testar um produto que já está pronto. Empresas que possuem pouco e mesmo nenhum estoque, trabalham com produção por encomenda (just in time), possibilitando mais personificação do produto ao cliente, além de reduzir os custos de manutenção de estoque.

2.      Quantidade de parceiros: empresas que mantêm um ou pouco parceiros têm a vantagem de ter um bom relacionamento com fornecedores e/ou distribuidores, os quais podem lhe oferecer uma vantagem competitiva, seja em preço, seja em qualidade. Já empresas com muitos parceiros diminuem os riscos da cadeia de suprimento, de modo que caso um fornecedor ou distribuidor não honre seus compromissos, a empresa poderá rapidamente contar com outro.

3.      Estratégia de Negócios: a empresa precisa decidir se quer competir por preço ou por diferenciação. Empresas que competem por preço visam uma produção eficiente e padronizada em larga escala, de modo a minimizar o custo unitário de cada produto e disponibilizá-lo a um preço mais acessível ao cliente. Suas vendas ocorrem com margens de lucro baixas, porém em grande volume. Empresas que competem por diferenciação focam em disponibilizar um produto customizado a cada perfil do cliente. Vendem cada produto em pouco volume, porém com margens de lucro altas.

Nos exemplos citados, foram enfatizados os extremos, quando, na prática, os dilemas são formados por contínuos. As empresas podem, por exemplo: manter um nível de intermediário de estoque e/ou parceiros comerciais; optar por alguma diferenciação que mantenha certa escalabilidade (GOULART, 2021). O equilíbrio entre esses fatores normalmente se baseia em métodos estatísticos de previsões da demanda e oferta por um produto. Esses métodos traçam inicialmente projeções baseadas nos dados históricos das operações da organização, mas que podem ser aprimoradas a partir de inclusão de variáveis correlacionadas com significância estatística (GUJARATI, 2019).

Quanto a demanda, os principais fatores são nível, tendência ou sazonalidade. Quando o nível de demanda é historicamente estável, sem tendência e sazonalidade, pode-se usar os métodos de média móvel simples, média móvel ponderada ou suavização simples. Quando apresenta tendência, usa-se o método da suavização dupla. Se possuir tendência e sazonalidade, aplica-se o método da suavização tripla (GOULART, 2021).

Quanto a oferta, um dos principais problemas logísticos está relacionado fornecedores, que podem não honrar seus compromissos em virtude da entrega errada, em quantidade inadequada ou atrasada dos insumos/produtos necessários. Nesses casos, as organizações costumam estabelecer um estoque de segurança, também baseado em métodos estatísticos, para minimizar os efeitos dessas incertezas e manter um nível de disponibilidade adequado do produto ao cliente (GOULART, 2021).

Outra grande discussão em logística, e no setor empresarial como um todo, é quando a sustentabilidade. A partir de discussões globais levantadas por obras como Primavera Silenciosa (CARSON, 1963) e “Limites para o Crescimento” (MEADOWS et al., 1972), bem como na Conferência da Nações Unidas de Estocolmo (1972), emergiu, no relatório de Brundtland (1987, p. 5), o conceito de desenvolvimento sustentável como “aquele que satisfaz as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. A sustentabilidade passou então a ser um novo paradigma, inclusive no setor empresarial, se consolidando o conceito de Triple Bottom Line, pautado na conciliação entre as dimensões social, ambiental e econômica (ELKINGTON, 1994).

A logística sustentável numa empresa pode ser implementada com base em três abordagens de gestão ambiental empresarial: I) Abordagem corretiva: voltada para o cumprimento da legislação, com a poluição sendo tipicamente tratada apenas no final do processo produtivo (end-of-pipe);  II) Abordagem preventiva: voltada ao uso eficiente dos insumos, redução de custos e aumento a produtividade, como eliminação dos rejeitos na fonte, antes que sejam produzidos e lançados ao meio ambiente; III) Abordagem Estratégica: voltada para visualização a questão ambiental como uma vantagem competitiva, cuja preocupação não está apenas com os processos internos da empresa, mas com toda a sua cadeia de suprimentos. Não adianta, por exemplo, a empresa ser sustentável se seus fornecedores não forem. Um típico exemplo de aplicação da abordagem estratégica é o estabelecimento de um Sistema de Gestão Ambiental (que pode se basear na ISO 14.001); e da Logística Reversa, baseada em modelos como a de Produção Mais Limpa (P+L) (ALVES, 2015; BARBIERI, 2023).

Em conclusão, a visão ampliada de logística considera a gestão integrada da cadeia de suprimentos, no sentido de se obter a agregação de valor ao consumidor final nos diferentes elos dessa cadeia. A gestão logística, por outro lado, enfrenta diversos dilemas, destacando-se: muito ou pouco estoque; muito ou pouco parceiros comerciais; estratégia de negócios baseada em preço ou valor. Não se trata de opções binárias, mas sim de contínuos nos quais a organização pode optar por um equilíbrio entre os polos, normalmente a partir de métodos estatísticos de previsão de oferta e demanda dos produtos. Outro fator cada vez mais importante no mundo atual é a sustentabilidade da logística, a qual pode-se pautar em três abordagens de gestão ambiental: corretiva, preventiva e estratégica. A abordagem estratégica inclui, por exemplo, a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental e Logística Reversa.

Referências

BARBIERI, J. Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 5ª ed. São Paulo: Saraiva. 2023. 280p.

BOWERSOX, D.; CLOSS, D.; COOPER, M.; BOWERSOX, J. Gestão Logística da Cadeia de Suprimento. 4. ed. São Paulo: McGraw Hill, 2013.

BRUNDTLAND, G. (Ed.). Report of the World Commission on Environment and Development: our common future.  Norway: United Nations. 1987. 318 p.

CORNELL, B.; DAMODARAN, A. Valuing ESG: Doing good or sounding good?. NYU Stern School of Business, n. 1, 2020.

ELKINGTON, J. Cannibalas with forks: the triple bottom line of 21st century business. Oxford: Capstone, 1994.

FONSECA, I.; BURSZTYN, M. Mercadores de Moralidade: a retórica ambientalista e a prática do desenvolvimento sustentável. Ambiente & Sociedade, Campinas, v. 10, n. 2, p. 171-188, jul-dez., 2007.

GOULART, D. Logística e Supply Chain Management / FGV EAESP (2021.1) – Curso Completo. YouTube, 13 set. 2021. Disponível em: https://youtube.com/playlist?list=PLiduoUPCLaJXTS0xkIMr2-RgCFesDDFA1. Acesso em 15 fev. 2023.

IGNÁCIO, P. Logística – Aula 01 – Logística e Cadeia de Suprimentos. YouTube, UNIVESP, 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xNT3Lbh8fT4. Acesso em 19 jan. 2023.

NINA, A. Logística reversa. Apostila: inicial e continuada em agente de Logística Reversa. Modalidade educação a distância. Macapá: IFAP, 2020.

NOVAES, A. Logística e Gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, avaliação e operação. 5 ed. São Paulo: GEN Atlas, 2021. 424p.

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