Empreendedorismo e Inovação
O empreendedorismo e a inovação são temas fundamentais para a economia e para a sociedade. O empreendedorismo é a capacidade de identificar e aproveitar oportunidades de negócios. A inovação é a introdução de novas ideias, produtos ou processos que geram valor para a sociedade. O empreendedorismo e a inovação estão intimamente relacionados, pois a inovação é uma das principais fontes de vantagem competitiva para os negócios. Dessa forma, o presente texto tem como objetivo refletir sobre empreendedorismo e inovação, bem como suas importâncias para o desenvolvimento socioeconômico.
Empreendedores
são considerados donos de negócios, ao passo que negócio é uma palavra cuja origem
epistemológica remete à “negação do ócio” e que significa toda atividade capaz
de gerar renda em função da entrega de bens e serviços como contrapartida.
Desta forma, é preciso diferenciar empresário de empreendedor: enquanto o
primeiro é o dono de uma empresa, ou seja, um negócio formal com CNPJ; o
segundo é dono de um negócio, podendo ser informal ou não. Todo empresário é
empreendedor, mas nem todo empreendedor é empresário (DORNELAS, 2012).
O
empreendedorismo é cada vez mais visto como um “estilo de vida”, para o qual
existem muitas controversas. Num contínuo, há dois polos: de um lado, aqueles
que visualizam os empreendedores de sucesso como pessoas egoístas, oriundas
majoritariamente de famílias ricas e que cresceram às custas da exploração da classe
trabalhadora; de outro lado, aqueles que visualizam os empreendedores como
super-heróis, capazes de realmente mover a humanidade rumo ao progresso. Nesse
ínterim, muitos mitos são ditos sobre os empreendedores (DORNELAS, 2012), a
saber:
1.
“Empreendedores nascem feitos”: empreendedorismo está muito mais para um
conjunto de habilidades e mentalidades adquiridas com muito esforço do que para
um dom;
2.
“Empreendedores são jogadores”: na verdade, os empreendedores assumem riscos
calculados, buscando sempre colocar as estatísticas ao seu favor. Dos antigos
cassinos às casas de apostas esportivas atuais, o dinheiro tende a ficar mais com
a “casa” do que com os apostadores.
3.
“Todo o empreendedor é rico”: no que tange as pessoas mais ricas do mundo serem
empreendedoras, a verdade é que a maioria dos empreendedores, seja no Brasil ou
em países como EUA, possuem pequenos negócios e empreendem por necessidade.
Como supracitado, empreendedores assumem risco e, na maioria das vezes, esses
riscos se concretizam e os negócios não obtém êxito. Os negócios que prosperam,
porém, em virtude dos riscos assumidos, acabam trazendo excelentes retornos
para seus donos. De fato, para o acúmulo de patrimônio, o fator mais importante
é a educação financeira (KYIOSAKI; LECHTER, 2000). São comuns ganhadores de
loteria conseguirem prêmios milionários e depois de algum tempo, por falta de
educação financeira, perderem tudo; ao passo que mais da metade dos bilionários
não nasceram em famílias ricas (UBS, 2014).
4.
“O dinheiro é o fator mais importante para iniciar um negócio”: na verdade,
preponderante é visualizar oportunidade e aproveitá-las, a partir de
estratégias estabelecidas em um plano de negócios. Com isso o dinheiro pode vir
naturalidade através de diversas fontes de financiamento, como banco,
investidor-anjo, ventures capital, etc.
5.
“Empreendedores não têm chefe”: mesmo que formalmente não, na prática o
empreendedor possui “vários” chefes, que são as partes interessadas
(stakeholders) no negócio: clientes, sócios, investidores, fornecedores,
funcionários, governos, etc. Esses stakeholders exercem grande pressão
na gestão de negócios. Inclusive é comum empreendedores terem problemas
psicológicos como ansiedade e TDAH (SEBRAE, 2022)
6.
“Empreendedores devem ser jovens”: isso pode até ajudar, mas não deve ser visto
como um dogma. Henri Nestlé começou a empreender com 52 anos e criou uma das
maiores marcas do mundo.
7.
“Empreendedores são lobos solitários e egoístas”: de forma alguma isso se
sustenta, pois ninguém faz nada sozinho. Os empreendedores precisam de uma rede
robusta de sócios, colaboradores e parceiros para terem sucesso. O egoísmo
dificulta o exercício da liderança, já que uma das principais virtudes de um
líder no contexto atual é saber ouvir com humildade seus liderados.
8.
“Empreendedores são sempre inovativos”: na verdade, a inovação é uma estratégia
para o empreendedorismo, considerada uma das mais arriscadas. Pode-se
empreender por exemplo simplesmente aprimorando inovações feitas por outros
indivíduos ou organizações, numa técnica conhecida como benchmarking. As ondas do marketing digital brasileiro
geralmente são adaptações de ondas que ocorreram antes nos EUA, a exemplo da
recente difusão dos podcasts.
Sobre
esse último ponto, Schumpeter (2017), considera que a inovação é a principal
fonte de vantagem competitiva para as empresas. Mais do que isso, o autor
argumenta que o próprio desenvolvimento socioeconômico não é contínuo, mas
ocorre a partir de ondas de inovação. A inovação pode ser classificada como incremental,
quando é feita uma melhoria em um produto ou processo existente, ou radical,
quando é criado um produto ou processo totalmente novo.
O
termo inovação disruptiva ou disrupção é usado para inovação de impacto
socioeconômico global. Alguns exemplos de disrupção são: a descoberta do fogo,
na Idade Antiga, que possibilitou aos homens afugentar seus predadores; a
máquina de escrever, na Idade Média, que possibilitou a tiragem em larga escala
de livros e consequente maior difusão da ciência; a internet, no século XX, que
revolucionou as comunicações; e, mais recentemente, o avanço da Inteligência
Artificial (IA).
Um
dilema empresarial frequente ocorre entre manter um produto atual e propor uma
inovação. As vantagens de se manter um produto atual está na maior padronização
dos processos produtivos, bem como redução de custos e aumento da qualidade
(advindo de técnicas de aprimoramento). Nessa alternativa, a organização
precisa manter um ambiente rígido; já a proposição da inovação pressupõe um
ambiente criativo e flexível, com aumento de custos e apetite ao risco. Um
exemplo é a Kodak, que mantinha o monopólio do mercado de câmera analógica nos
anos 1980, com altas margens de lucro. A empresa foi a criadora da câmera
digital, porém resolveu não propor o produto aos clientes, para não quebrar com
o mercado que lhe proporcionava muita rentabilidade. Mais tarde, outras
empresas, como a Canon, introduziram a câmera digital com sucesso, quebrando o
monopólio da Kodak (BATENAN; SNEL, 2009).
Esse
exemplo, tende a estabelecer a premissa de que sempre a opção pela inovação é a
melhor, o que nem sempre é verdade. De fato, as inovações disruptivas sempre
encontraram resistências culturais: o socialismo utópico proponha a quebra das
máquinas como forma de combate à revolução industrial; os taxistas se manifestaram
contra o uber; e mais recentemente foi assinada uma carta, por nomes como nome
como Elon Musk e Yuval Harari, solicitando pausa nos avanços da Inteligência
Artificial. As resistências também ocorrem no âmbito jurídico: empreendedores
inovativos, como Frederic Taylor (sec. XX) e Mark Zuckerberg (sec. XXI),
tiveram que enfrentar um tribunal por conta das consequências sociais de suas
inovações. Tais resistências, muitas vezes impedem o avanço da inovação
(CHIAVENATO, 2020). Em outras situações, a inovação simplesmente não se adere à
cultura da sociedade, a exemplo da configuração padrão da ordem das letras dos teclados
de digitação mais utilizado no mundo (QWERTY), para a qual estudos mostram que
não é a mais eficiente, mas foi a que se estabeleceu (SIMPSON, 2010).
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novo cenário competitivo. Tradução Bazán Tecnologia e Linguística Ltda. 2. ed.
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